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Há 4 Décadas na Fundação Bradesco, Denise Aguiar Lidera Investimentos Bilionários em Educação

20/10/2025
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Neta de Amador Aguiar, fundador do banco, é a responsável pelo maior projeto de investimento social privado do Brasil (Por Dafne Sampaio) - foto reprodução - 

"Um grande desafio para o Brasil é investir na formação do professor", diz Denise Aguiar Alvarez, diretora da Fundação Bradesco

Uma das primeiras lembranças de Denise Aguiar Alvarez, 67, são os passeios de mãos dadas com seu avô, Amador Aguiar, pela Cidade de Deus, bairro de Osasco, Grande São Paulo. Ela tinha seus três anos e era a primeira neta do fundador do Bradesco (1943) e da Fundação Bradesco (1956), cujas sedes ficam até hoje no bairro.

O que era extensão da sua casa, um playground diferente, virou trabalho e moldou seu jeito de ver o mundo após tanta insistência do avô. “Ele falava pra todos que iam visitá-lo: ‘essa aqui é a minha neta; ela vai tomar conta da Fundação’.”

Desde 1986, ao se tornar diretora da Fundação Bradesco aos 28 anos, Denise é responsável por levar o sonho de seu avô adiante, capitaneando o maior projeto de investimento social privado do Brasil. Nos últimos 10 anos, a Fundação Bradesco investiu R$ 9,5 bilhões em educação – sendo que R$ 894,5 milhões apenas em 2023 e cerca de R$ 1,4 bilhão em 2024.

É um orçamento espalhado por 40 unidades escolares, em todos os estados brasileiros, beneficiando mais de 42 mil alunos nos 13 anos da educação básica (sem falar na educação de jovens e adultos e nos cursos de formação inicial continuada).

“Via meu avô diariamente e sempre frequentei muito o banco. Era uma extensão da minha casa.”

A seguir, confira os destaques da entrevista com Denise Aguiar Alvarez, diretora da Fundação Bradesco


Forbes: Antes de falarmos sobre a Fundação Bradesco, você lembra o que queria ser quando crescer?


Denise Aguiar Alvarez: Se eu falar, você não vai acreditar. Queria ser dona de casa. Me lembro falando isso no colégio. Estudei em um colégio de freiras, e até elas ficavam olhando e achando um absurdo.

O que era aspiracional em ser dona de casa?


Acho que era fazer tudo muito bem-feito: cuidar muito bem da casa, dos filhos, essas coisas. Mas isso eu era muito menina. Depois, quando já estava no ensino médio, lembro que as professoras pediram para algumas meninas, eu inclusive, irem ao 9º ano explicar o que era o ensino médio. Fiquei muito impactada com aquilo, porque a gente chegou lá e as meninas não deixavam a gente falar.

Aquilo ficou muito na minha cabeça; não conseguia parar de imaginar no que aquelas meninas estavam pensando. E isso meio que permeou um pouco a minha vida, porque, quando fui fazer pedagogia, o que mais queria estudar era como a criança pensava, como o adolescente pensava.

E na hora de decidir a faculdade…

Foi um horror, porque estudei minha vida toda em um colégio só de meninas. E, pasme você, entrei em ciências sociais na PUC em 1977, o ano em que a universidade foi invadida pelos militares. Teve toda essa violência, mas o curso foi o contrário do que imaginava.

Era professora de sociologia falando que metade da classe não ia aguentar até o meio do ano; era texto obrigatório em espanhol que ninguém dominava; era aluno que não deixava professor entrar. Pensava comigo que não ia conseguir sobreviver àquilo. Então, encontrei uma colega da escola e fui com ela ver uma aula de pedagogia. Gostei. Era um curso muito bom. Foi assim, meio aleatoriamente, que cheguei à pedagogia.

A época universitária ensinou algo que você carrega até hoje?

Não muito, porque era um curso muito teórico. Quando me formei, decidi que queria muito aprender inglês. Aí, o que fiz? Fui morar em Nova York por um ano para fazer curso de inglês. Depois fui à Universidade de Nova York, a NYU, procurando algum curso em educação. O cara disse que só tinha mestrado. Falei “mestrado?”. Meu Deus, nunca pensei em fazer mestrado. Na NYU, foi diferente, porque era um curso muito mais pé no chão, muito mais da realidade do ensino, da aprendizagem, dos professores.

O que escolheu para o mestrado?

Escolhi exatamente o que mais gosto: infância e ensino básico. Tinha que fazer um trabalho muito grande de pesquisa e fiquei indo, por quase seis meses, a um espaço embaixo de uma igreja perto da NYU. Era um espaço bem amplo, como se fosse uma brinquedoteca, cheio de colchões, aonde as mães iam com suas crianças. Crianças de um ano ou dois. Ia lá e não podia falar, tinha que apenas observar.

Juntei essa observação a uma outra pesquisa que estava fazendo sobre a [primatologista e antropóloga] Jane Goodall e foi muito interessante ver as similaridades entre humanos e chimpanzés. E uma grande diferença: os chimpanzés não batem nos seus filhotes. Esse período da NYU durou quase três dos cinco anos em que morei em Nova York.

Antes, durante e depois da época em Nova York, você já havia feito algo no Bradesco?

Sou a neta mais velha e, a vida inteira, minha mãe morou vizinha ao meu avô. Então, a gente tinha um contato muito próximo, muito grande. Via meu avô diariamente e sempre frequentei muito o banco. O banco era uma extensão da minha casa. Então, quando estava no Brasil, meu avô me chamava para vir almoçar aqui e conversar. Se ele tivesse visita, de amigos a ministros de Estado, ele falava “essa aqui é a minha neta; ela vai tomar conta da Fundação”. Ele falava isso para todo mundo. Só respondia: “não sei se quero isso, não sei se gosto dessa Fundação”.

Queria continuar estudando, queria fazer um doutorado na França. E ele insistia “você tem que vir, você tem que vir”. Ele insistiu tanto que falei tudo bem, vou ficar um ano aqui na escola, mas com uma condição: não é para ninguém saber que sou sua neta. Realmente ninguém ficou sabendo, só a diretora da escola e a orientadora com quem trabalhava direto. Fiquei um ano e gostei.

O que você fazia?

Fiquei na pré-escola e educação infantil. Só na educação infantil, são 420 crianças. E eu fazia de tudo. Cheguei a levar criança em ambulatório porque tinha se machucado; ajudava na cozinha; arrumei um dia o gás; ajudava ou substituía professoras. E aí um dia cheguei para a orientadora, que é minha amiga até hoje, e falei “escuta, eu podia fazer um trabalho com as crianças que estão um pouco mais atrasadas?”. “Ah, pode fazer o que você quiser.”

Então reunia essas crianças, ficava com elas, conversando, acompanhando, e em um mês elas já estavam iguais a todo mundo. Tinha que prestar muita atenção em cada criança e procurar entender qual era a questão com cada uma. Depois de um ano, meu avô falou “então, você vai ficar, né?” e me deu o cargo que tenho até hoje.

Você entrou oficialmente na Fundação Bradesco em 1986. Tinha por volta de 28 anos. Como foi esse começo?

Ninguém precisou me falar, mas tinha total noção que ia ser muito difícil, porque era neta do fundador e porque era mulher. Agora, em educação, tem uma questão que é mais difícil ainda. Quando a pessoa é nova, eles acham que você não sabe nada, porque, em educação, conta muito a experiência que a pessoa tem.

Então, você imagine que, na década de 1980, eu com essa idade, tomando conta disso tudo, ninguém dava bola. A pessoa já entrava na minha sala falando que a idade que eu tinha era o tempo em que ela trabalhava na Fundação.

Teve algum momento nesse início que deu a você certeza do que estava fazendo?

Olha, não sei se teve um momento porque demorou, sem brincadeira, uns 20 anos. Todo mundo via que eu tinha mais conhecimento, mas, para entenderem ou acreditarem que ia dar certo o que estava propondo, isso foi demorado. Mas vou falar para você: nunca fiquei batendo de frente, nunca. Digamos que tenho bastante paciência.

Mas 20 anos é bastante tempo, mesmo para quem tem paciência…

Sabe em quem pensava? Nos alunos. Penso neles sempre, até hoje. E sempre tive muita noção da importância do meu avô nessa instituição e no porquê ele tinha me colocado nela. Isso me norteou a permanecer na Fundação até hoje.

Por que acha que seu avô a colocou na Fundação Bradesco?

Acho que ele me conhecia melhor do que eu mesma.

O que dava a você certeza de que seria compreendida?

Eu me comprometi com meu avô a assumir isso. E não voltaria atrás. Pode vir todo mundo aqui fazer o que for que não iria desistir. Sou muito focada e tenho muito compromisso com o que falo. Tudo isso me dava essa certeza.

Como a Fundação Bradesco via a educação nos anos 1950? E depois da sua entrada, nos anos 1980? Como ela vê a educação agora? Houve alguma transformação?


Por que meu avô teve a ideia da Fundação? Porque era um momento em que não tinha escola pública para todas as crianças no país. Por isso que ele começou com essa coisa de colocar escola onde não tinha, tipo no interior do Pará, em Tocantins, uma escola fazenda no meio do Mato Grosso do Sul. E escolas de qualidade, de alto padrão.

Depois veio a universalização da escola, da educação para todas as crianças brasileiras, mais ou menos na década de 1980. Em termos curriculares, não mudou muito não, porque o maior desafio foi sempre manter a qualidade educacional e a infraestrutura das nossas escolas, que, invariavelmente, ficam em lugares distantes.

No ano que vem, a Fundação Bradesco completa 70 anos. Consegue ver alguma coisa no futuro que seja um desafio para essa estrutura educacional?

Acho que o grande desafio não é para a Fundação – é para o país todo. E é sobre a qualidade desses profissionais que estão na linha de frente nas escolas. E a qualidade desse profissional, ao longo desses muitos anos em que estou na Fundação, acho que não melhorou muito. Esse é um grande desafio para o Brasil: investir na formação do professor. Sem falar que, em um país tão grande, é preciso saber lidar com inúmeras diferenças culturais.

A verdade é que trabalhar em escola é um desafio. Vai muito além de ensinar português e matemática. Implica relações interpessoais e pessoais dos alunos entre si. E o professor, o orientador, todo mundo que está na escola tem que estar muito alerta para isso. Com o tipo de aluno que a gente atende, muita coisa vem à tona na escola, sabe? É incrível como tudo o que acontece de abuso, de agressão, de tudo na casa o aluno leva para a escola e conta. Ele pede socorro. Então, eles veem a escola da Fundação Bradesco como um lugar seguro. (Fonte: Forbes)

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