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O trabalho na era da IA: como a inteligência artificial ameaça postos de trabalho no Brasil

20/10/2025
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Série do ‘Estadão’ vai mostrar o potencial risco da IA substituir profissionais que executam tarefas operacionais e quais carreiras são mais vulneráveis (Por Jayanne Rodrigues)

Um tradutor que perdeu mais de um terço da renda mensal, uma designer que ficou sobrecarregada após implementação da IA, outro profissional que enfrenta queda de demanda. Essas são algumas das histórias que o Estadão publica a partir desta segunda-feira, 20, na série “O trabalho na era da IA“.

Apesar das divergências sobre o impacto no mercado de trabalho, muitas mudanças já aparecem no dia a dia dos trabalhadores. Dos profissionais ouvidos pela reportagem, alguns precisaram fazer transição de carreira por não encontrar emprego na área. A maioria narra desvalorização dos serviços e sobrecarga na rotina de trabalho.

O debate sobre como a IA vai mudar o mercado de trabalho ganhou coro nas últimas semanas com um depoimento do CEO do Walmart, Doug McMillon à Fortune. “Está muito claro que a inteligência artificial vai mudar literalmente todos os empregos.”

À frente da companhia com mais de 2 milhões de funcionários em todo o mundo, o executivo diz não conseguir pensar em uma única função que não será alterada pela tecnologia. Hoje, a gigante do varejo automatiza tarefas e cria novas posições, como a de “construtor de agentes”, responsável por desenvolver ferramentas de IA para uso interno.

Nos Estados Unidos, há relatos de recém-formados que não conseguem emprego porque a IA assumiu funções iniciais, categorizadas como tarefas mais operacionais e repetitivas. Isso porque, as demandas que podem serem descritas em um passo a passo simples são as primeiras a serem automatizadas, segundo estimativa de especialistas.

Uma pesquisa divulgada pela Microsoft neste ano listou as 40 profissões com maior probabilidade de automatização. Intérpretes e tradutores lideram como os profissionais mais afetados. Atendentes de suporte ao cliente, telemarketing e algumas funções da área de TI, como cientista de dados, desenvolvedores web e assistentes estatísticos, também integram o ranking.

Entre otimistas e pessimistas, uma coisa é certa: não há mais volta e quem não estiver atualizado vai ter mais dificuldade para se reposicionar no mercado. “Toda tecnologia quando chega deixa alguém para trás”, afirma George Darmiton, professor titular em inteligência artificial do Centro de Informática na Universidade Federal de Pernambuco.

O lado mais fraco da corda

Darmiton divide o impacto da IA em quatro categorias: baixo, moderado, alto e profissões que ainda não existem. Os casos mais críticos envolvem tarefas repetitivas, operacionais e processamento de grandes volumes de dados, como atendimento ao cliente e linhas de montagem.

No impacto moderado, há possibilidade de aumento de produtividade se o profissional se atualizar. Para Elisa Jardim, gerente da divisão de tecnologia na Robert Half, isso não significa entender a fundo o funcionamento da IA. Na verdade, a ideia é aprender a aplicá-la no dia a dia conforme a natureza do trabalho, seja para resumir uma reunião ou automatizar tarefas mecânicas que não exigem pensamento crítico.

Áreas como direito, comunicação e produção de conteúdo estão no limiar em que depende da requalificação do profissional para ter potencial de risco ou oportunidade. “O profissional que não conseguir trabalhar em conjunto com essas ferramentas vai perder espaço. Porque essas ferramentas podem auxiliar, por exemplo, na curadoria de texto para minimizar erros”, explica Jardim.

Já as profissões que demandam criatividade, estratégia, habilidades sociais, comportamentais e emocionais tendem a ter baixo impacto. Psicólogo, cabelereiro, assistente social, encanador, jardineiro, professor estão entre os perfis com menor risco de substituição.

"O que requer conexão e empatia com o humano não tem perspectiva da máquina ter algo nesse sentido."
George Darmiton, professor titular em inteligência artificial do Centro de Informática na Universidade Federal de Pernambuco.

Não há consenso sobre em quanto tempo a IA substituirá funções. Para o professor André Ponce de Carvalho, diretor do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, a estimativa é de que a transformação seja mais rápida que a popularização da computação, por exemplo, em que as pessoas tiveram que retreinar o uso do computador em um ritmo mais lento.

É exatamente essa aceleração que preocupa Carvalho sobre a capacidade de adaptação dos profissionais. “Não vai dar tempo de se manter na profissão atual em alguns casos. Mesmo em áreas que não vão desaparecer, o perfil do trabalho vai mudar rápido”, alerta o docente que foi um dos únicos brasileiros a integrar o comitê responsável pelo relatório internacional de segurança em IA.

O documento, inclusive, indica que a IA pode aumentar o desemprego. No entanto, o estudo afirma que o impacto depende da velocidade dos avanços tecnológicos em cada país e região.

Desemprego e desigualdade no Brasil
Os professores George Darmiton e André de Carvalho concordam que o Brasil está vulnerável em relação ao avanço da tecnologia e que ainda falta o básico de letramento digital nas escolas e universidades. Somado a isso, a ausência de mão de obra qualificada em IA e a não competividade do Brasil com empresas de IA estrangeiras piora o cenário.

“Nós usamos tecnologia de fora como se fosse uma commodity”, ressalta Carvalho, que também critica a falta de ensino de pensamento computacional.

A baixa produtividade também confirma o atraso. Enquanto países investem em IA para auxiliar no aumento de produtividade, o País engatinha. Segundo dados da Conferece Board sobre produtividade, o Brasil ficou no 78º lugar em 2024 entre 131 nações avaliadas, atrás de vizinhos da América do Sul, como Uruguai, Argentina e Chile.

Na visão do professor André de Carvalho, se os investimentos aumentarem os profissionais terão mais chance de se reposicionar. Caso contrário, a tendência é ampliar a desigualdade e aumentar o gargalo na educação.

Um futuro com jornada de trabalho reduzida
No médio e longo prazo, Carvalho acredita que a reorganização do trabalho — se bem feita — também vai influenciar a carga horária. “Talvez no futuro tenhamos jornadas mais curtas. Isso pode reduzir o estresse e melhorar a qualidade de vida”, projeta.

Elisa Jardim, da Robert Half, opina que hoje o cenário do mercado de trabalho reage de uma maneira “otimista” e enxerga a IA como um “complemento à atividade humana”. Porém, o principal responsável por treinamentos e atualização não é a empresa, é o próprio profissional, diz. “Ignorar o movimento do mercado não é mais uma opção”.

Além da necessidade em investir em certificações em IA e até pós-graduação a depender da área de atuação, Jardim estima que a procura por aprimoramento em habilidades humanas e capacidade analítica deve aumentar. Nessa esteira, profissionais mais seniores, como CEO e alta liderança, serão mais disputados por demandar um papel estratégico.

“A IA não vai acabar com os profissionais de medicina e direito, por exemplo, mas vai elevar o sarrafo. Só os profissionais de ponta vão continuar no mercado”, analisa Carvalho. De duas uma, os mais frágeis ao avanço da IA ou vão se atualizar e se reposicionar no mercado ou serão substituídos.

Quem são os profissionais impactados pela IA

Com base nos estudos mais recentes e a partir das análises dos pesquisadores consultados pela reportagem, decidimos reunir 4 profissões de diferentes áreas para entender como a IA está impactando a rotina de trabalho. Neste momento, vamos conhecer histórias de tradutores, designers gráficos, profissionais júniores da área de tecnologia. Além de entender como áreas tradicionais, como o direito e a medicina, serão impactadas. (Fonte: Estadão)

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