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Brasil tem mais de 2 milhões de golpes, com explosão de fraudes com Pix e redes sociais

29/09/2025
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Especialistas veem migração de crimes na rua para estelionatos virtuais; ministério diz investir em ação conjunta com bancos (Por Caio Possati, Ítalo Lo Re e Vanessa Fajardo) - foto reprodução - 

O Brasil registrou crescimento de 7,8% nos casos de estelionato em 2024 na comparação com o ano anterior. Ao todo, são quase 2,17 milhões de ocorrências para este tipo de crime, o que equivale a 4 por minuto. Os números são do Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, divulgado nesta quinta-feira, 24.

Em 2023, o total de estelionatos registrados no País foi de 1,96 milhão, 8,2% a mais ante 2022 (1,81 milhão). E o total pode ser maior, uma vez que nem todos os delitos dessa natureza são registrados.

Em nota, o Ministério da Justiça e Segurança Pública afirma atuar em conjunto com bancos e no aperfeiçoamento de recursos antifraude dos documentos de identidade no combate ao crime. Já a Febraban, a federação dos bancos brasileiros, ressalta que, além do investimento do sistema financeiro de cerca de R$ 5 bilhões em segurança e prevenção de fraudes, possui processos de conscientização da população (leia mais abaixo).

A modalidade oferece menos risco a eles do que o roubo na rua e, muitas vezes, retorno financeiro maior. Além da popularização das redes sociais, o uso massivo do Pix, de aplicativos bancários e de plataformas de apostas (como o Jogo do Tigrinho) estão por trás desse fenômeno.

Especialistas apontam que os avanços tecnológicos podem agravar esse cenário, com o uso de inteligência artificial para forjar biometrias faciais, vozes e burlar softwares antifraude.

O Anuário de Segurança se baseia em informações dadas por governos estaduais, Tesouro Nacional, polícias civil, militar e federal, entre outras fontes oficiais. A publicação é uma das mais principais referências de estatísticas no setor.

“Há relação direta entre a transformação digital da sociedade e o crescimento dos golpes”, afirma Renato Sérgio de Lima, diretor presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Polícia não está conseguindo fazer prevenção e precisa investir em investigação

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Presidente do Fórum destaca que ações das forças de segurança falham no planejamento e uso da tecnologia.

Em 2018, eram 426,7 mil estelionatos, um quinto do patamar atual. A escalada se acentuou na pandemia. Quando o comércio fechou e as pessoas ficaram trancadas em casa, os bandidos buscaram alternativas para obter dinheiro. Isso acelerou a migração do roubo (crime patrimonial) para o estelionato virtual.


“Com o advento da inteligência artificial e o deep fake (técnica para criar vídeos ou áudios realistas, mas enganosos), há a possibilidade, inclusive, de uma imagem estar sendo usada e não ser você“, destaca Lima.

Ele cita ainda que a cultura digital precária do brasileiro médio e a falta de foco das polícias civis no combate a golpes desse tipo são outros fatores que favorecem os estelionatos digitais.

Crime organizado
As ações de golpistas virtuais deixaram de ser uma ação de hackers, isolados em quartos. Os crimes se sofisticaram e os ataques se tornaram uma das principais fontes de receita das facções criminosas, sem respeitar limites dos Estados ou países.

“É possível que o volume de dinheiro que circula com golpes virtuais já seja até muito maior do que aquele obtido com a venda da cocaína”, destaca Lima.


Em 2024, por exemplo, uma quadrilha foi presa em Campinas (SP), após aplicar golpes em ao menos 475 vítimas em vários Estados. Médicos e dentistas eram os principais alvos.

Os criminosos montaram uma central telefônica e se passavam como funcionários do setor de cobrança de uma cooperativa de profissionais da saúde ou como servidores de cartório.

Eles ofereciam para as vítimas a quitação de dívidas que não existiam por valores mais vantajosos. Conforme a investigação, os Pixs repassados pelas vítimas chegavam a R$ 80 mil. Houve sete prisões em flagrante.

“Quando a equipe (da polícia) entrou, às 8h40 da manhã, eles trabalhavam a todo vapor. A central operava 24 horas por dia. Uma estrutura profissional assim, operando há quase um ano, não estaria em pé sem aval de uma facção”, disse o delegado Sandro Jonasson, responsável pelas investigações.

O Ministério da Justiça destaca a criação, em 2024, da Aliança Nacional de Combate a Fraudes Bancárias Digitais, fechada com a Febraban, federação das empresas do setor. Entre as ações, estão a capacitação de agentes e o compartilhamento e de dados.

Também ressalta a criação da nova carteira de identidade, que tem QR code e possibilidade de verificação digital de informações.

A Febraban diz que os 2,17 milhões de golpes apontados no anuário referem-se aos vários tipos de estelionato, independente dos canais de aplicação dos golpes. O chamado “estelionato por meio eletrônico” não se refere apenas a app de bancos ou transações financeiras, mas a todas as fraudes eletrônicas previstas no Código Penal. Inclui também as fraudes digitais cometidas por meio de redes sociais, contatos telefônicos, envio de correios eletrônicos ou links fraudulentos via SMS e outros meios análogos.

A entidade diz que os aplicativos bancários possuem robustas estruturas de monitoramento de seus sistemas e utiliza o que há de mais moderno em tecnologia e segurança da informação. “Os dados de uso não ficam armazenados nos aparelhos e os aplicativos contam com o máximo de segurança em todas as suas etapas, desde o seu desenvolvimento até a sua utilização. Não há registro de violação da segurança desses aplicativos”, diz.

A Febraban ressalta que, além do investimento do sistema financeiro de cerca de R$ 5 bilhões em segurança e prevenção de fraudes, possui processos de conscientização da população, com campanhas realizadas pela federação e seus bancos associados em datas comemorativas. Desde 14 de julho está no ar a campanha “Capricha do Não, que não tem golpe”.


Letramento digital

Os estelionatários também aproveitam os deslizes das vítimas para ter sucesso. “Não há necessariamente letramento digital suficiente para ter proteção de senhas, acesso a contatos, a redes e às pessoas”, afirma Lima.

A aposentada Rosely Calvo, de 72 anos, de São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, foi vítima de um golpe envolvendo o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), em junho.

Em um sábado, ela recebeu ligação de um homem que se passou por funcionário da instituição perguntando se ela havia feito recentemente a “prova de vida”, um procedimento para confirmar se o beneficiário está vivo evitando fraudes e pagamentos indevidos.

O contato foi feito por ligação via WhatsApp e o perfil trazia a foto de um homem de terno e gravata, o que ajudou a dar credibilidade à farsa. Rosely diz que respondeu que havia feito o processo na agência da Caixa no ano passado.

“Aí ele me disse que eu tinha de fazer a prova de vida no INSS também e pediu para eu entrar no aplicativo para ver se havia algum comunicado. Fiz isso, mas não tinha nada, nem e-mail.”

Na sequência, o golpista perguntou a Rosely se ela era titular de duas contas em outras instituições bancárias. Ela suspeitou pela primeira vez, mas confirmou. “Estranhei o fato de que um funcionário do INSS tinha acesso a essas informações, mas estava meio desligada e segui com a ligação.”

Em seguida, o criminoso afirmou que enviaria um link e que Rosely deveria acessá-lo para confirmar os dados pessoais. O golpista explicou que essa seria uma exigência para evitar que o pagamento de sua aposentadoria fosse cancelado.

Ela clicou no link ainda durante a ligação. Foi quando se deu conta do golpe. Ela acessou o aplicativo da Caixa para conferir o saldo e descobriu que haviam roubado os R$ 3 mil que estavam na conta. “Em fração de segundos, senti na hora: levei golpe”, lembra.

Imediatamente a ligação foi encerrada e a foto do suspeito deixou de ser exibida no WhatsApp. A aposentada, que também trabalha com doméstica, foi até a sua agência bancária da Caixa para relatar o golpe e registrou boletim de ocorrência, mas não tem esperança de recuperar o dinheiro roubado.

A quantia é maior do que o valor que recebe pela soma de duas rendas mensais. “Era muito dinheiro, tudo o que tinha para pagar minhas contas. Não sobrou R$ 1. Na hora chorei muito, nunca tinha passado por isso. Ninguém está pronto para ser assaltado”, diz.

Rosely diz que sua filha sempre a orienta a não clicar em links desconhecidos que chegam pela internet, mas na hora foi levada pela emoção. “Foi tão natural que nem me liguei”, finaliza.

Em nota, a Caixa informou que monitora ininterruptamente seus produtos, serviços e transações bancárias para identificar e investigar suspeitas de fraudes. E diz ter políticas e procedimentos de segurança para a proteção de dados e operações de seus clientes.

O banco esclarece, ainda, que não pede que o cliente digite ou informe senhas, não envia SMS com link ou e-mails, apenas se autorizados pelo cliente. Além disso, recomenda atenção a qualquer atividade e situação não usual, e principalmente não clique em links recebidos por SMS, WhatsApp ou redes sociais para acessar as contas e valores a receber.

No caso de contato suspeito, o banco recomenda que o cliente desligue o telefone, procure seu gerente na agência ou ligue para o Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC) no 0800 726 0101.

Investigação requer ajuste de foco
Segundo Lima, é um problema os investimentos em segurança pública focarem mais o policiamento ostensivo do que a inteligência investigativa. “Não é parar de financiar o policiamento ostensivo, porque ele é necessário. Mas como ir atrás das quadrilhas de receptação, das centrais que desbloqueiam celulares, que estão cada vez mais perto de nós mesmos?”, questiona.

Ele mesmo responde: “É necessário articular o policiamento ostensivo com o investigativo, e não temos isso reforçado no País. Não tem como pensar a investigação criminal se não for com mudanças em termos de cooperação federativa e interinstituições. (Fonte: Estadão)

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