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Sindicato dos Bancários de Paranaguá

Bancos digitais: o futuro do sistema bancário brasileiro?

24/05/2021
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Diferentemente dos bancos tradicionais, que oferecem uma gestão parcial da conta por meio de aplicativos ou sites, as novas instituições digitais oferecem um serviço totalmente à distância. Esses serviços têm funções as quais incluem desde a criação da conta-corrente e transferências, até inúmeros benefícios como oferta de taxas mais baixas, menor burocracia para transações financeiras, atendimento rápido e eficiente, entre outros. Essas vantagens vêm fazendo com que, desde a década passada, milhares de brasileiros abram mão do atendimento físico nas agências para aderir a essa nova moda de gerir suas finanças.

Essa tendência de adesão ao serviço mais moderno resultou em um ganho de espaço no mercado nacional por parte desses bancos frente às sólidas instituições tradicionais que anteriormente detinham um oligopólio. Esse movimento tornou-se ainda mais intenso em 2019, quando estimativas da consultoria Boston Consulting Group (BCG) registraram uma abertura mensal de contas entre 500 mil e 1 milhão nos bancos digitais. No entanto, como esse mercado atingiu esses expressivos resultados e o que pode se esperar dele no futuro?

A PROPENSÃO AO DIGITAL
O surgimento dessas plataformas digitais, na década passada, ao contrário do que muitos pensam, não começou com as startups bancárias, mas com os grandes bancos do país que concentram boa parte do mercado. Quando perceberam que as plataformas não só reduziriam burocracias, mas também representariam economias no longo prazo, figuras importantes como o Itaú, maior banco do país, passaram a buscar o desenvolvimento de suas próprias plataformas online. Esse maior interesse dos grandes bancos pelo digital refletiu em investimentos para plataformas virtuais que somaram R$ 19,6 bilhões em 2019, uma evolução de 3% em relação ao ano anterior.

Por conta da inclinação aos meios digitais, surgiram categorias próprias, como o mobile banking*, que teve um forte aumento de participação nas transações financeiras. Uma pesquisa realizada em 2019 pela consultoria britânica Deloitte, em parceria com a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), revela que 60% das transações bancárias já são feitas por meio de celulares ou computadores, explicitando a existência dessa tendência.

*mobile banking: está associado ao uso de qualquer dispositivo móvel, como tablets e relógios tecnológicos, para acessar serviços que antes só eram oferecidos nas agências bancárias.

Dentre essas duas modalidades, destaca-se a movimentação financeira pelo celular, que registrou crescimento de 80% em relação à edição anterior da pesquisa, em 2018. A preferência pelo celular é resultado da praticidade e conveniência que os aplicativos desenvolvidos pelos bancos para essa plataforma oferecem, podendo indicar o futuro das transações.

As interações via chat (operados por profissionais de atendimento) obtiveram um crescimento de 364% em 2018, chegando ao volume de 138,3 milhões. A partir desses dados, conseguimos perceber uma propensão do público a tecnologias bancárias, sendo esse um bom indicador para a existência de bancos 100% digitais. Uma pesquisa ponderou o NPS (Net Promoter Score) dos dois tipos de serviço tendo como resultado que a satisfação com os bancos digitais é maior do que com bancos tradicionais, 30,7% e 17,5%, respectivamente. Os completamente virtuais representam uma ruptura total, dado que o setor bancário brasileiro é extremamente concentrado nas mãos de 5 gigantes que detinham juntos 70,9% dessas operações em 2018: Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil, Itaú Unibanco, Bradesco e Santander.

Além dessas análises temos que uma pesquisa feita pelo Instituto QualiBest apontou que os entrevistados, em média, possuem contas em dois bancos. A Caixa Econômica Federal é o mais popular entre os internautas bancarizados, mantendo relacionamento, ou seja, contas ativas, com 51% deles. Outros, como Bradesco, Banco do Brasil e Itaú, têm relacionamento com 25% dos internautas, enquanto o Santander aparece com 18% e o Nubank (criado em 2014) com 8% das aderências dos entrevistados. A facilidade de acesso, tanto presencial quanto virtual, é o principal fator de escolha de um banco, apontado pela pesquisa. Por isso, 65% preferem o canal digital, como internet banking* e mobile banking, na hora de ser atendido.

*internet banking: está associado ao uso de computadores para acessar serviços que antes só eram oferecidos nas agências bancárias.

Além da análise sobre as transações bancárias digitais estarem aumentando sobre as tradicionais, os bancos digitais também em si estão em expansão. No Brasil, 77% das pessoas são bancarizadas e os chamados bancos digitais são conhecidos pela maioria deles. A consultoria Kantar aponta o Nubank como o caso de maior sucesso no mercado brasileiro, visto que 28% da população bancarizada tem conta na fintech (startups que trabalham para inovar e otimizar serviços do sistema financeiro).

Como comparativo com outros bancos digitais, uma parcela de 11% é cliente do Banco Inter, e 4% têm conta no Next, criado pelo Bradesco. Contudo, as instituições convencionais ainda levam vantagem, visto que quem possui conta em um banco digital deixa, em média, 40% de seu dinheiro depositado nele e os outros 60% em um banco tradicional. Grande parte disso é devido ao sentimento de insegurança em relação aos bancos totalmente digitais, mas ao tempo parece que a adesão a eles está aumentando. Essa questão pode ser diminuída com o número de adesões e o tempo das empresas no mercado mostrando segurança para seus clientes

“A insegurança com os bancos digitais diminui quando aumenta o conhecimento sobre eles. A ausência de tarifas, praticidade no gerenciamento de contas e a inovação de ser 100% digital são os principais fatores que motivam a abertura de contas em bancos digitais”, apontou Daniela Malouf, diretora-geral do Instituto QualiBest.

Os principais desafios dos bancos digitais são, então, transmitir essa segurança, credibilidade e ao mesmo tempo utilizar a modernidade como diferencial. Para ganhar escala, os bancos digitais precisam construir uma forma nova de se relacionar com os clientes, com base em análises de comportamento e necessidades, por meio das informações oferecidas nas transações financeiras e suas interações na web.

Dado que as interações financeiras virtuais vêm ganhando preferência e os bancos digitais continuam crescendo, é interessante analisar como eles de fato funcionam.

A DISTINÇÃO DOS BANCOS VIRTUAIS
Como foi citado acima, para se diferenciar dos bancos tradicionais e ganhar escala de crescimento frente a essa indústria concentrada, é necessário bastante investimento. Consegue-se chegar nessa conclusão quando pensamos como um banco funciona: é necessário ter um caixa considerável para poder emprestar dinheiro, visto que é sua principal forma de arrecadação, por meio de juros.

Com isso, ao adentrar nesse setor, torna-se necessária a realização de uma alta quantia de investimentos, e, por isso, muitas vezes esse bancos digitais acabam se encontrando altamente alavancados. Como exemplo temos o Nubank que, ao todo, já levantou US$ 820 milhões em investimentos, dinheiro usado para alavancar sua operação não apenas no Brasil, mas em outros países latino-americanos.

Para que fique um pouco mais palpável, podemos tomar o exemplo do Nubank. A empresa permanece crescendo em um ritmo forte desde sua criação, apesar dos contínuos prejuízos. A fintech anunciou, no início de 2020, seus resultados financeiros de 2019, registrando um prejuízo de R$ 313 milhões durante o ano, valor 212% maior do que o divulgado sobre 2018, isso porque possui grandes investimentos buscando diversificação na captação e criação de novos produtos.

Pode parecer contraditório inicialmente, contudo, isso faz parte da estratégia de alavancagem e não altera seu preço de mercado, estimado em US$ 10 bilhões. Apesar do aumento no ritmo de perdas, a fintech tem capital para seguir investindo em expansão de seus negócios, projetando um momento no futuro em que os custos do crescimento (em questão de volume de clientes) serão reduzidos e os lucros começarão a se acumular:

“Nosso resultado líquido é diretamente ligado ao nosso ritmo de crescimento: escolhemos investir, crescer e oferecer serviços a mais pessoas. Se o Nubank tivesse mantido o ritmo anterior, o resultado ajustado de 2019 seria positivo – mas, de novo, se trata de escolhas”, diz Gabriel Silva, vice-presidente de Finanças do Nubank em comunicado.

Pensando na quantidade de dinheiro investido é interessante entender em qual setor/área cada banco digital foca como sua atuação no momento. Dentro da caracterização dos neobancos (aqueles nativos digitais), é possível enxergar diferentes objetivos entre eles, além de diferentes caminhos de criação:

Com esses gráficos, percebemos que a maioria dos bancos digitais não está ligada aos tradicionais e possuem uma desvantagem quanto às atividades que prestam, sendo poucos os bancos completos (ex: Banco Inter e Next, atrelado ao Bradesco), que possuem opções parecidas com as dos maiores bancos.

Um dos maiores pontos contra os bancos digitais é desconfiança na falta de agência física. Contudo, existem outras diferenças entre os bancos tradicionais e virtuais que podem ser interessantes para o consumidor. As instituições digitais se reinventaram para competir no cenário bancário brasileiro, por isso trouxeram alguns pontos muito importantes para os seus clientes.

Todas essas vantagens acabam sendo um estímulo não apenas para os consumidores de serviços financeiros que buscam menos burocracia, mas também para a população ainda não-bancarizada.

Essa quantidade de atrativos podem ser uma boa estratégia competitiva para ganhar escala frente aos gigantes do setor bancário brasileiro. Elas parecem estar funcionando, dado que há um crescimento grande no número de novas contas nesses bancos digitais. Mas o quanto isso é saudável no longo prazo? Essa alavancagem pode ser muito arriscada, ao ponto de não valer a pena. Para esclarecer essa análise, voltemos ao caso do Nubank: O resultado da dívida do ano passado (2019) pode parecer assustadora.

No entanto, o que faz a empresa continuar com essa tática é o crescimento constante: se em algum momento o Nubank, ou qualquer uma dessas empresas, parar de crescer, o problema será maior por estar alavancado. O risco em uma operação desse tipo é acabar com um duplo prejuízo se o investimento não tiver o desempenho esperado. Ou seja, a dívida gerada no empréstimo se soma à perda graças a uma ação mal feita. Apesar do risco atrelado a essa estratégia, esse parece ser o caminho seguido por várias startups atualmente.

TENDÊNCIAS ATUAIS
O setor de serviços financeiros, no Brasil e no mundo, passa por um ponto de inflexão. Para lidar com a evolução de um segmento que atravessa profundas transformações tecnológicas, regulatórias e de mercado, os bancos se deparam com a necessidade de conduzir mudanças estratégicas em seus modelos de negócios e de operações.

Dados mostram que 71,9% dos usuários estariam dispostos a migrar de seus bancos tradicionais para uma instituição financeira digital. Os clientes estão cada vez mais exigentes sobre a qualidade que esperam de um serviço, ainda mais o financeiro, bem como sobre a agilidade dele, dado que a plataforma dos bancos tradicionais é considerada inferior nesse quesito.

Essa preferência se traduz no crescimento das contas digitais pelo país – em 2019 existiam 28 milhões de contas 100% digitais, e esse número deve atingir os 73 milhões até 2021. Amantes da agilidade, simplicidade e maior interatividade, os novos usuários dessas plataformas têm acesso quase que instantaneamente às informações, além de ter disponíveis, na palma da mão, inúmeras opções de serviço.

Essa tendência mundial é ainda mais forte nos países emergentes: um levantamento da empresa de consultoria Kantar mostra que a adesão aos chamados neobancos é bem maior no Brasil, na Índia e na China, quando comparados aos países desenvolvidos. Uma das razões para isso, segundo a companhia, é o fato de nesses três países a população ser menos bancarizada ou até possuírem conta, mas não terem acesso a serviços financeiros. Quando pensamos em uma conta com fácil acesso sem necessidade de agência há uma maior acessibilidade para essa parcela.

Embora milhões de pessoas estejam baixando aplicativos e abrindo contas em neobancos, ainda há um longo caminho a percorrer até eles alcançarem o número de transações, o saldo em conta e o uso regular de quantidades de transações obtidos pelos bancos tradicionais. Dessa maneira, depender apenas de uma especialização talvez não seja o suficiente para os bancos digitais alcançarem e sustentarem seu crescimento no longo prazo.

A tendência é clara, mas, se quiserem se tornar predominantes no dia a dia de seus clientes, superando os bancos tradicionais e aumentando a fidelização, os bancos digitais devem pensar em ampliar o escopo de atuação. Essa sugestão vai na contramão do modelo adotado hoje por grande parte das fintechs, no entanto pensando no contexto em que se encontram - onde precisam angariar mais clientes, buscando um crescimento saudável -  pode vir a ser a melhor alternativa. (Fonte: consultingclub)

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