Banco espanhol transforma o family office e o private banking local em uma operação global. O Brasil passará a contar com produtos e portfólio iguais aos de outras geografias, para capturar os donos de grandes fortunas (Por Patricia Valle)O Santander deu uma guinada nos últimos quatro anos para estar entre os principais private banks do Brasil e dobrou de tamanho, ultrapassando hoje os R$ 300 bilhões sob custódia somando operações onshore e offshore.
Agora, o banco quer partir para uma nova fase: crescer entre os clientes mais sofisticados e conquistar o segmento de Ultra High Net Worth - de pessoas com patrimônio acima de R$ 80 milhões.
Uma das principais estratégias para conquistar esse público foi remodelar o serviço de family office. Presente no Brasil há quatro anos e já atendendo cerca de 20 famílias, a área virou case para o banco espanhol criar uma estrutura global de family office.
Sob uma nova marca - deve se chamar Beyond Wealth, mas o banco não confirma essa informação -, o Santander está conectando os family offices de diversas regiões do mundo em uma operação global. Com isso, os clientes terão acesso aos bookings de investimento e estratégias de alocação do banco nos Estados Unidos e Europa, além de serviços próprios como wealth planning, gestão de carteiras imobiliárias e concierge.
"Somos o único grande banco com escala global no Brasil, mas a verdade é que não estávamos explorando isso ao máximo localmente”, afirma Vitor Ohtsuki, sócio-diretor do Santander Private Banking, em entrevista ao NeoFeed. “Agora, estamos conectando o nosso family office a essa estrutura global para trazer, de fato, um serviço global ao cliente."
Santander investe em bankers e eventos para atrair grandes fortunasO executivo, que passa a ser o responsável local pelo family office respondendo ao head global, explica que o cliente brasileiro terá a mesma experiência, produtos e visão de portfólio que qualquer cliente em outras geografias.
No Brasil, o serviço está disponível para clientes com pelo menos R$ 100 milhões em liquidez e em breve ganhará o modelo de gestão discricionária. A remuneração é a tradicional, com consolidação de carteiras e cobrança de fee fixo.
Com a oferta de valor vinda da estrutura global, o Brasil funciona como ponta comercial para atender os clientes e levar suas necessidades e especificidades locais para profissionais ao redor do globo. Por enquanto, há três pessoas dedicadas, com planos de expansão conforme o crescimento.
O Santander não informa quanto tem sob consultoria atualmente, mas pretende chegar a R$ 50 bilhões nos próximos cinco anos e estar entre os grandes family offices do País voltados para grandes fortunas.
"Temos o plano de mais que dobrar de tamanho, mas isso não significa que queremos ser gigantescos. Queremos ter poucos e bons clientes, aqueles que de fato são sofisticados e grandes. Não ter mil famílias em um modelo massificado", diz Ohtsuki.
Remodelagem do private bankingA estratégia para conquistar grandes fortunas também inclui uma remodelagem do private banking - atendimento a clientes acima de R$ 10 milhões.
O banco acredita que esse modelo ainda é preferido por muitos clientes, especialmente brasileiros que gostam de participar ativamente da alocação de portfólios, ouvir opiniões de diversas casas e manter conexão com vantagens de banking como cartões de crédito especiais.
"Queremos que o cliente nos reconheça não só como o banco da LCI e da LCA, mas como hub completo de alocação patrimonial e de investimentos mais sofisticados", afirma Ohtsuki.
O plano inclui ampliar plataformas de produtos mais sofisticados no mercado local, com a tesouraria expandindo a oferta de títulos de crédito estruturado, fundos de infraestrutura e operações personalizadas. Há também maior foco na gestão de fundos exclusivos e carteiras administradas.
O Santander acredita que seu diferencial está principalmente na oferta offshore, que tem tido crescente apelo dos clientes brasileiros que entendem a necessidade de ter uma carteira global com ativos internacionais, não apenas brasileiros em dólar.
Desde 2022, a base de clientes offshore cresceu e o volume da operação mais que dobrou. Por isso, o banco reforçou times em Miami e Suíça, principais hubs da operação, para atender especificamente o Brasil.
"Em 2023, tivemos um recorde de alocação offshore, enquanto em 2024 os clientes ficaram mais digerindo o fim do diferimento da tributação e, com a volatilidade do câmbio, as remessas desaceleraram. Mas acreditamos que a mudança é estrutural e que o brasileiro terá um portfólio maior no exterior", diz Ohtsuki.
A estratégia envolve conectar os private bankings ao redor do mundo, que até então funcionavam de forma isolada. Ofertas de produtos e deals privados que acontecem na Espanha, Reino Unido e Dubai passaram a ser disponibilizados de forma mais coordenada para clientes brasileiros.
Segundo o banco, o Santander Private Banking registrou crescimento do resultado de negócios acima de 20% entre 2024 e 2025.
Expansão de mercadoA entrada mais forte do Santander no segmento sofisticado tanto pelo family office como private é resultado de uma tendência no mercado de wealth management brasileiro e mundial, em que os serviços mais customizados que vão além da gestão financeira ganham força entre os donos de grandes fortunas.
No Brasil, os multi family offices correspondem a cerca de R$ 470 bilhões dos mais de R$ 3 trilhões do mercado de grandes fortunas, mas têm crescido mais aceleradamente que o private banking tradicional.
O BTG Pactual tem reforçado seu family office com aquisições recentes da operação brasileira do Julius Baer e da JGP Wealth Management. Itaú e Bradesco também possuem estruturas internas voltadas para clientes com grandes volumes.
Já no Private Banking, para se sustentar nessa disputa, o Santander está investindo na área comercial com contratação de bankers em cidades de forte crescimento, como interior de São Paulo e região Sul, além de novas praças como Goiânia.
O banco também investe em posicionamento de marca, com ações na Fórmula 1, no golfe e em eventos de conteúdo em diversas regiões do Brasil, especialmente fora de São Paulo, para se aproximar de empresários e herdeiros que formam o núcleo de sua base de clientes.
"As coisas no Brasil mudam muito rápido e essa indústria de wealth management está mudando também. Mas acreditamos que estamos no caminho certo para ser referência e entregar soluções completas, dentro e fora do Brasil", diz Ohtsuki. (Fonte: Neo FEED)
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